Assistir à 286ª sessão da Câmara Municipal de Valparaíso de Goiás, realizada na última quarta-feira, 27 de novembro de 2024, foi como presenciar uma aula prática sobre as razões que levaram a população a renovar mais de 70% dos vereadores na última eleição. O recado das urnas foi claro, mas, pelo visto, os membros da atual legislatura ainda não assimilaram a mensagem.
Minha crítica não se dirige a quem ficou ou saiu, mas ao fato de que esta legislatura se mostrou uma das mais esquecíveis. Durante quase duas horas de sessão, não houve qualquer debate relevante ou produtivo.
Mais grave, porém, é o clima de hostilidade e arbitrariedade que permeia as decisões internas. Em qualquer democracia, o direito ao contraditório é sagrado, mas em Valparaíso ele parece ser ignorado. Negar requerimentos de vereadores sobre temas importantes, como projetos de lei, dispensas de licitação e taxas bancárias, levanta suspeitas desnecessárias. Qual é o sentido de barrar esclarecimentos se tudo está dentro da legalidade?
Essa atitude cria um precedente perigoso: ou parece haver algo a esconder, ou questões pessoais estão sendo colocadas acima das prerrogativas parlamentares. A população, diante de um cenário como esse, é forçada a se perguntar se há irregularidades ou se tudo não passa de mesquinharia política. E se fosse um requerimento de interesse de quem votou contra? O quão perto estamos de transformar a Câmara em um espaço onde decisões são baseadas no “quem” e não no “quê”?
Outra prática lamentável foi exposta quando um vereador pediu o uso da tribuna para explicações pessoais e, por não pertencer à maioria, viu seus colegas abandonarem o plenário, encerrando a sessão por falta de quórum. Isso apequena o legislativo local. Ouvir é a principal função de um parlamentar, mesmo que a fala do outro seja desinteressante ou discordante. Afinal, todos são pagos, e bem pagos, para isso.
O episódio protagonizado pelo vereador Zequinha do São Bernardo é um retrato fiel da desconexão da Câmara com seu papel institucional. Silenciar vozes opositoras, ainda que sejam minoritárias, é um desrespeito ao eleitor que esses parlamentares representam.
A renovação massiva do parlamento foi uma tentativa do povo de virar a página. Aos vereadores eleitos, fica o alerta: Valparaíso não pode mais tolerar práticas que apequenam o debate público. A nova legislatura terá a missão de resgatar a credibilidade da Câmara e restaurar sua função primordial: legislar com transparência, eficiência e respeito à democracia.
O que se viu nesta legislatura precisa ser esquecido, mas as lições que ela deixa devem ser permanentemente lembradas. O povo espera mais, e não vai hesitar em cobrar.