A candidatura de Maria Yvelônia à prefeitura de Valparaíso de Goiás em 2024 traz à tona uma contradição evidente: apesar do apoio declarado de Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro, Maria se candidatou por um partido de centro-esquerda, o Solidariedade. Isso chama a atenção não apenas pela posição ideológica do partido, mas também pelas declarações do ex-presidente Bolsonaro, que em várias ocasiões deixou claro que não apoiaria partidos de esquerda ou centro-esquerda.
O Solidariedade, fundado em 2012 e oficialmente registrado em 2013, tem como líder principal o sindicalista Paulinho da Força, um aliado histórico do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 2022, o partido se uniu à coligação “Brasil da Esperança”, que apoiou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência. O partido, que já havia apoiado o PSDB em eleições passadas, fez uma guinada mais próxima ao campo progressista nas últimas eleições, evidenciada pela aliança com o PT.
Essa aproximação com o campo da esquerda torna a candidatura de Maria Yvelônia particularmente curiosa. Embora tenha o apoio de Bolsonaro, sua escolha por um partido como o Solidariedade, historicamente vinculado ao sindicalismo e à esquerda, pode gerar certo desconforto entre os eleitores mais conservadores.
Além disso, a liderança do partido ainda enfrenta desafios. Eurípedes Júnior, ex-presidente do Pros e atual figura central no Solidariedade, esteve envolvido em uma operação da Polícia Federal, a “Operação Fundo do Poço”, que investigou desvios de fundos partidários e eleitorais. Eurípedes foi acusado de desviar R$ 36 milhões e chegou a ser preso, embora tenha conseguido liberdade provisória. Essa investigação lança uma sombra sobre o partido, reforçando a complexidade da escolha de Maria Yvelônia.
O próprio Bolsonaro, ao longo de sua carreira política, se distanciou de partidos e lideranças que tivessem qualquer ligação com a esquerda, inclusive sindicalistas como Paulinho da Força. Ainda assim, seu apoio a Maria Yvelônia reflete a complexidade das alianças políticas locais, onde o pragmatismo pode superar divergências ideológicas.
O Solidariedade, enquanto partido, tem uma história marcada por oscilações. Se, de um lado, apoiou candidaturas do PSDB nas eleições presidenciais de 2014 e 2018, em 2022, sua guinada ao campo progressista culminou na coligação com o PT. O partido também passou por uma reestruturação interna, com a fusão do Pros ao Solidariedade em 2023. Esse movimento reforçou a presença do partido no cenário político, mas trouxe consigo as controvérsias em torno das lideranças envolvidas.
Para os eleitores de Maria Yvelônia, a escolha por um partido de centro-esquerda pode ser um ponto de tensão, especialmente entre os bolsonaristas mais convictos, que rejeitam alianças com partidos fora do espectro de direita. Contudo, é possível que o peso do apoio de Bolsonaro e sua esposa, Michelle, equilibre as percepções dos eleitores, que podem optar por focar no perfil conservador de Maria, deixando de lado as contradições partidárias.
A candidatura de Maria Yvelônia, portanto, é um exemplo claro de como, em eleições municipais, as alianças podem se sobrepor à coerência ideológica, refletindo o pragmatismo político em busca de maior competitividade eleitoral. A relação com o Solidariedade, partido que já transitou entre o centro e a esquerda, pode gerar desafios de comunicação com o eleitorado bolsonarista, mas o apoio de figuras de destaque no conservadorismo brasileiro pode ser um fator decisivo.
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